sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Treinamento para virar planta (parte 1)

Iow

Tudo começou na viagem para a minha terrinha, Apucarana-megalópole-city. Ia para o casamento de uma amiga de longa data. Cheguei na minha poltrona no busão, que sempre é do lado do corredor, e sentei no meu lugar. Na poltrona do lado da janela, já estava um cara devidamente estacionado.

Eu - "Opa, beleza? Tá indo pra onde?" - protocolo padrão de comunicação para ser educado

Cara - "Maringá... E depois vou pra Esberimbolândia" - onde "Esberimbolândia" é o nome de uma cidade que eu não lembro... Mas é um lugar longe.

O final da linha é em Maringá, ou seja, o cara não iria descer antes (liberando espaço). Blah. Rapadura é doce mas não é mole não.

Partimos. Depois de muito tempo de viagem, o cara se sentiu meu amigo, depois do protocolo padrão:

Cara - "Então, lá em Esberimbolândia eu vou num campeonato de Muay Thai no domingo..."

Eu - "Hummmm..." - protocolo padrão de demonstração mínima de interesse

Cara - "Pow tava treinando e tal, e agora to morto de fome..."

Eu - "Hummmm..." - while (true) say("Hummmm...");

Para não deixar o cara sem graça comecei a pensar em alguma coisa mais decente pra dizer. Como eu estava meio com sono, comecei a viajar na maionese: imaginei aquela aula de matemática: teoria dos conjuntos. Qual o resultado da intersecção dos conjuntos "Assuntos de lutador de Muay Thai com fome" e "Assuntos de um nerd com sono" ?

Conjunto vazio. Fiquei no "Hummmm..." mesmo.

Um tempo depois, o busão parou para o jantar. O cara matou a fome (e matou o único assunto que ele tinha).

Na volta, o bicho chegou com aquele fedosão de cigarro.

Cara - "Pow, tenho que parar de fumar. Fico com essa tosse maldita depois..."

Eu - "Hummmm..." - ebaaaa, assunto novo... Agora com aroma de Marlboro e trilha sonora de tosse.

Com a parada, perdi o pouco de sono que eu estava. Ainda mais com o cara defumado do meu lado... E eu precisava dormir: afinal, em uma viagem de 10 horas, ficar sem dormir é complicado.

No meio da serra, fiquei tão noiado com "querer dormir", que novamente comecei a viajar a maionese: sonhei que estava acessando a API do cérebro, procurando desesperadamente a função "sleep". Mas a documentação era tão feia que parecia a API do Windows. Acabei não achando nada. Então chamei uma função qualquer...

E de repente acordo (droga, devo ter chamado a função "wakeUp")... E uma coisa estranha na minha perna... Mas hein... O cara do meu lado jogou o braço pro meu lado e a mão caiu em cima da minha perna!!! WTF!!!???

"Mas que &@#%*!! é essa? Só falta o cara ser uma bichona!???"

Encolhi-me pro outro canto do banco, fazendo a mão dele cair. O cara tava num sono que tava até roncando. E agora?
  1. Podia acordar ele para fazer ele se tocar... Mas correria dois riscos: se ele fosse uma bichona, poderia aí sim fazer um "vem cá meu nego"... E se não, o Muay Thai poderia subir à cabeça e o cara ficar enfesadinho;
  2. Podia ficar a viagem toda encolhido no meu canto... Mas eu queria dormir, pow!!!
  3. Podia ficar cotucando ele pra ver se ele se virava ou qualquer coisa do gênero.
Adotei a última estratégia. Nerds prezam por sua integridade física também. Não demorou muito e o cara se virou pro outro lado, levando seu braço. Ufa...

O restante da viagem foi tranquila, mas eu dormi com um olho aberto. Just in case.

Chegando em Apucarana-megalópole-city, fui dormir. Dessa vez sem lutadores de Muay Thai defumados com a mão boba do meu lado.

De noite, casamento. Festa. Woo hoo. Yeah yeah. Gravata na cabeça. Dança do siri. Cada um no seu quadrado. E assim por diante.

Dia seguinte, aquela ressaca. Eu não bebo nada, a ressaca é do queijo mesmo (ganhei de brinde do meu pai a incrível feature "Intolerância à lactose"). O dia todo de molho.

E de noite... a volta para casa. Esquema frenético: bate-e-volta de busão, cada viagem com 10 horas. Como diria Shao Kahn: "Outstading".

Novamente fui para o meu lugar, do lado do corredor. E um cara lá no lugar do lado da janela. "Tomara que não seja outro lutador de qualquer coisa" pensei.

Eu - "Opa, beleza? Tá indo pra onde?" - Protocolo padrão de comuni... ah, você sabe.

Cara - "Porto Alegre, vou fazer um treinamento de uma empresa que blablabla..."

(Parece que apertei o botão de disparo do despertador, o cara não parou de falar)

Blah... Porto Alegre é o ponto final no outro sentido. Não levei sorte. Pelo menos esse cara é mais magrinho e pequeno que o outro, então não acredito que ele vai precisar ocupar o meu banco (muito menos a minha perna...).

A viagem foi tranquila... até que...

O ônibus que eu pego (o único que passa em Apuka-city, saindo de Florianópolis) possui internet wi-fi, o que possbilita que os passageiros naveguem na rede durante a viagem. Pois bem. Até então eu tinha comigo a idéia de que "ninguém seria sem-noção a ponto de ligar o notebook no meio da madrugada, fazendo aquele clarão no ônibus e acordando todo mundo"...

Ledo engano. Quando eu estava naquele soninho bom, uma luz forte projetou-se na minha cara. O cara do outro lado do corredor abriu seu amado notebook...

"Mas que &@#%*!! é essa?" - essas viagens estão merecendo o apelido de &@#%*!!

Só de raiva comecei a ficar olhando o que o cara acessava. Será que é um nerd? Bom, pra ligar dessa maneira, a essa hora, não tem como não ser... ou tem?

E lá foi ele. Windows XP... Hum... Fosse 100% nerd estaria num Linux. Mas tudo bem. Mapeando as redes wireless... É, não é todo mundo que sabe fazer isso. Abrindo o navegador... O que? Internet Explorer? &@#%*!!

Não era um nerd. Só um wannabe nerd. Pobre coitado.

A internet não funcionou. Então ele começou a organizar seu álbum de fotos. Fotos sensuais de mulheres esculturais. Hummm... Interessante, mas não tinha lugar melhor pra ele ver isso não?

Demorou um tempo, ele desligou o notebook, e tudo voltou à mais perfeita paz.

Chegando em Floripa, de manhã, deixei a mala em casa e fui direto trabalhar. Não tinha tempo a perder, afinal, o relógio ponto não é nada maleável.

Trabalhei a manhã toda, e então fui almoçar. Até então não fazia idéia do que estava por vir...

(Continua na parte 2)

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