quarta-feira, 16 de junho de 2010

Descobrindo a definição religiosa

Iow

Há várias coisas que definem uma pessoa. A idade, o sexo, a nacionalidade, os hobbies... E uma coisa que sempre fez muita diferença na vida de uma pessoa ao longo da história, é a religião que ela segue.

Não tem jeito, fatalmente alguma vez na vida você já foi questionado (e talvez até interrogado) sobre a sua religião. E, no Brasil-sil-sil, a coisa mais fácil de se dizer, para escapar de qualquer polêmica, é que se é "católico não-praticante".

Fácil, extremamente fácil, pra você e eu e todo mundo cantar junto. Mas como introduzi em outro post, dizer que se é "católico não-praticante" é só um meio de camuflar que, na verdade, não se é nada, ou não se importa com religião. Diz amém, vai à igreja de vez em quando (natal?), reza quando alguma coisa está ruim, mas na verdade não se é católico, com todas as letras, como manda o vigário.

Desde as primeiras aulas de história, descobri que na verdade eu não era católico. Não tem como dizer que sigo uma religião, se na verdade discordo da maioria de suas ações. Por um tempo coloquei a carapuça de "católico não-praticante", mas depois também não me serviu mais.

Comecei então a buscar conhecimento. Saí em busca de outras religiões. Se discordava da católica, deveria haver alguma com a qual eu concordasse...

E fui. E cada nova religião que eu estudava, mais aspectos que eu não concordava apareciam. Fui em busca da religião perfeita, mesmo sabendo que ela não existia (o que não me impedia de continuar procurando).

Esse processo de busca foi muito bom pra mim, pois abri minha mente para qualquer coisa. Livrei-me dos preconceitos bizarros, e deixei-me levar pela curiosidade.

Muito bom, muito bem... mas nesse processo perdi uma característica, uma das definições de pessoa: afinal, qual é a minha religião?

Frente a essa pergunta, fiquei muito tempo sem resposta. Já citei "err... nada ué!!!", "não sei" e até "tenho a minha própria". Todas respostas evasivas. Não que isso realmente importe, ainda mais no estado de busca contínua pela religião perfeita (que não existe), mas era algo incômodo.

Recentemente, em uma lista de e-mails de um grupo de jovens que participo, surgiu um assunto extremamente católico: a de que os pecados só podem ser perdoados através da intervenção divina, e que só é possível chegar a Deus através de Jesus Cristo. (Insira um "amém" aqui se achar necessário).

Bem, no meu impulso de sempre buscar conhecimento, fui em busca dos conceitos (pecado e perdão) em outras religiões. Foi bem produtivo:

Judaismo:
"...Para os judeus não há a idéia de pecado original. A visão judaica é que os seres humanos não nascem naturalmente bons ou maus. Todo indivíduo tem inclinações boas e más, mas tem também o livre-arbítrio moral para escolher o bem, e esse livre-arbítrio moral para o bem pode ser mais poderoso do que a inclinação para o mal. Na verdade, a ética judaica traz consigo a idéia de que os seres humanos decidem por si mesmos como agir. Isso é assim porque a inclinação para o mal e a possibilidade de pecado inerente à mesma permitem que as pessoas escolham o que é bom e, assim, obtenham mérito moral. A visão judaica não é a que as pessoas estão indefesas diante do equívoco moral e dependem de terceiros para serem salvas. O judaísmo entende que os seres humanos foram dotados de recursos para que sejam capazes de optar pelo bem quando se deparam com uma situação em que há inclinações para o bem e para o mal. Assim, têm a possiblidade de aprender com os próprios erros e evoluir moralmente."
( http://www.conversaojudaica.org/diferencas.php )

Islamismo:
"Islamismo: O perdão de pecados é obtido pela graça de Alá sem um mediador. O muçulmano tem que acreditar que Alá existe, acreditar nas doutrinas fundamentais do Islã, acredita que Muhammad é o profeta dele e seguir os mandamentos de Alá contidos no Alcorão."
( http://logoshp.6te.net/ISLAcomp1.htm )

"(o Arrependimento): A primeira coisa que purifica as pessoas dos pecados é o arrependimento. A entrada no Paraíso é diretamente ligada ao arrependimento. Se você se arrepender sinceramente perante Allah SWT tudo o que foi feito antes será apagado. O arrependimento tem 3 requisitos principais."
( http://www.islam.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=225:purificadores-dos-pecados&catid=53:aulas&directory=2 )

Budismo:
"...Os preceitos disciplinam o comportamento e ajudam a diferenciar entre certo e errado. Através do ato de disciplinar pensamento, ação e comportamento, pode-se evitar os estados de mente que destroem a paz interior. Quando um budista incidentalmente quebra um dos preceitos, ele não busca o perdão do pecado por parte de uma autoridade superior, como Deus ou um padre. Ao invés disso, se arrepende e analisa o porquê de ter quebrado o preceito. Confiando em sua sabedoria e determinação, modifica seu comportamento para prevenir a recorrência do mesmo erro. Ao fazer isso, o budista confia no esforço individual de auto-análise e auto-perfeição. Isto ajuda a restaurar paz e pureza de mente."
( http://hsingyun.dharmanet.com.br/buddhismo.htm )

Também consultei aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pecado , fala sobre o pecado em várias perspectivas.

E sobre o perdão, encontrei esse texto que também explica bem:
"O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou cessar a exigência de castigo ou restituição.

O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta ou que não se vê a muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.

O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.

Existem religiões que incluem disciplinas sobre a natureza do perdão, e muitas destas disciplinas fornecem uma base subjacente para as várias teorias modernas e práticas de perdão.

Exemplo de ensino do perdão está na "parábola do Filho Pródigo" (Lucas 15:11–32).

Normalmente as doutrinas de cunho religioso trabalham o perdão sob duas óticas diferentes, que são:

* Uma ênfase maior na necessidade das faltas dos seres humanos serem perdoadas por Deus;
* Uma ênfase maior na necessidade dos seres humanos praticarem o perdão entre si, como pré-requisito para o aprimoramento espiritual."
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Perd%C3%A3o )

Tive bastante dificuldade em encontrar citações sobre outras religiões. Esbarrei em muito blog preconceituoso, autores que tentam se achar os donos da verdade ou simplesmente impor a sua visão religiosa sobre os fatos. É triste, mas encontrei mais artigos desse jeito do que pregando realmente o que religiões mais se propõem (a paz).

Após enviado o e-mail, fui virtualmente apedrejado. Para ficar mais icônico só faltaram palavras de ordem medievais. E então comecei a pensar... Será que na verdade eu sou ateu?

Fiquei com a pulga atrás da orelha. Poxa, mas eu acredito em algo superior, só não encontrei uma religião com que eu concorde... Será que isso me condena a ter que enfrentar as pedras em vida e a queimar no fogo do inferno por toda a eternidade?

Comecei a fazer testes do tipo "descubra em 5 passos se você é ateu". Não passava do primeiro. Afinal, de novo, eu acredito em algo superior, ora bolas.

Então comecei a procurar por um bizarro meio termo entre teísmo e ateísmo. E dada a característica extremista dos artigos na web, novamente tive dificuldades. Mas como sou brasileiro e não desisto nunca, encontrei artigos sobre os agnósticos:

"Muitas pessoas usam, erroneamente, a palavra agnosticismo com o sentido de um meio-termo entre teísmo e ateísmo. Isso é estritamente incorreto pois teísmo e ateísmo separam aqueles que acreditam num Deus daqueles que acreditam na inexistência de Deus. O agnosticismo separa aqueles que acreditam que a razão não pode penetrar o reino do sobrenatural daqueles que defendem a capacidade da razão de afirmar ou negar a veracidade da crença teística."
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Agnosticismo )

Beleza, senti que eu estava perto, mas... ainda não era aquilo. Na mesma fonte, outro texto me chamou a atenção:

"Um agnóstico pode crer apenas por fé em algum deus ou deuses, ao mesmo tempo em que admite não ter conhecimento sobre a existência do(s) mesmo(s), podendo ser teísta se acreditar nos conceitos de deuses como descritos por alguma religião, ou deísta se for algo diferente desses moldes."

Deísta? O que raios é isso?

E graças a wikipedia, encontrei a definição que há muito tempo procurava:
"O deísmo é uma postura filosófico-religiosa que admite a existência de um Deus criador, mas questiona a ideia de revelação divina. É uma doutrina que considera a razão como uma via capaz de nos assegurar da existência de Deus, desconsiderando, para tal fim, a prática de alguma religião denominacional."
"Os deistas acreditam na possibilidade da existência de dimensões transcendentais. Contudo, não estão presos a nenhum tipo de mitologia ou dogma. Frequentemente, os deístas se encontram insatisfeitos com as religiões denominacionais, e apresentam, geralmente, algumas afirmações que os diferenciam dos religiosos convencionais ou teístas.:
  1. Acredito em um Deus, mas não pratico nenhuma religião em particular;
  2. Acredito que a palavra de Deus são as leis da natureza e do Universo, não os livros ditos "sagrados" escritos por homens em condições duvidosas;
  3. Gosto de usar a razão para pensar na possibilidade de existência de outras dimensões, não aceitando doutrinas elaboradas por homens;
  4. Acredito que os ideais religiosos devem tentar reconciliar e não contradizer a ciência.
  5. Creio que se pode encontrar Deus mais facilmente fora do que dentro de alguma religião;
  6. Desfruto da liberdade de procurar uma espiritualidade que me satisfaça;
  7. Prefiro elaborar meus princípios e meus valores pessoais pelo raciocínio lógico, do que aceitar as imposições escritas em livros ditos "sagrados" ou autoridades religiosas;
  8. Sou um livre pensador individual, cujas convicções não se formaram por força de uma tradição ou a "autoridade" de outros;
  9. Acredito que religião e Estado devem ser separados;
  10. Prefiro me considerar como um ser racional, ao invés de religioso."

CARACA!!! Perfeito!!! É exatamente como penso, mas que várias vezes não consegui me explicar e deixar claro. Nem eu mesmo sabia que existia uma definição para o meu padrão de pensamento... Pronto, agora posso dizer de uma vez por todas: sou deísta =)

Entrei em euforia. Chamei mãe, namorada, cachorro papagaio, falei pra quem quisesse ouvir: encontrei minha definição religiosa!!!

E, naturalmente, passei a mesma euforia por e-mail para a lista do grupo de jovens, esperando alguma reação positiva (ou até bem humorada)... Mas...

Pedras, pedras e mais pedras. Chegaram ao ridículo de tentarem me converter (oh pobre ser desamparado...), que é uma das poucas coisas que ainda me irritam nesse papo de religião.

Desse ponto em diante tive que dar razão aos ateus: é difícil conversar de forma civilizada com quem é extremista religioso. Esse post explica muito bem isso:

http://www.atheistrev.com/2009/11/whats-so-bad-about-religion.html

Então resolvi chutar o balde: dado o típico "o que os olhos não veem o coração não sente", prefiro não ler nada "católico demais" para evitar apedrejamento virtual. Apesar de que "o pior cego é o que não quer ver", também é verdade que "se fosse possível argumentar racionalmente com religiosos, não haveria religiosos...".

Conhecimento é o que interessa.

Saudações deístas.

Té++